‘Eu
envergonho-me da carne do meu irmão ou da minha irmã?’ – esta a
principal pergunta feita pelo Papa Francisco na Missa em Santa Marta nesta
sexta-feira. O cristianismo – afirmou o Santo Padre – não é uma regra sem alma;
um prontuário de observações formais para gente com o coração vazio de
caridade.
O
cristianismo é a própria carne de Cristo que se inclina sem envergonhar-se
sobre quem sofre. Tomando a Palavra do Evangelho do dia, proposta por S.
Mateus, o Papa Francisco refere-se ao facto dos discípulos de Jesus não
jejuarem e serem criticados pelos fariseus que, por sua vez, jejuavam muito.
Tinham transformado os Mandamentos numa ética, numa formalidade – observou o
Santo Padre:
“Receber do Senhor o amor de um Pai, receber
do Senhor a identidade de um povo e depois transforma-la numa ética é recusar
aquele dom de amor. Esta gente hipócrita são pessoas boas, fazem tudo aquilo
que se deve fazer. Parecem boas!”
Segundo
o Papa Francisco já o profeta Isaías na Primeira Leitura tinha deixado claro
qual fosse o jejum na visão de Deus: ‘libertar os que foram presos
injustamente, (…) pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de
opressão, repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem
casa’.
E
o jejum mais difícil apresentou-o Jesus na Parábola do Bom Samaritano – referiu
o Papa – ter a capacidade de se inclinar sobre o homem ferido. E não esqueçamos
que o sacerdote passa, olha mas não pára, se calhar com medo de contaminar-se –
afirmou o Papa Francisco:
“Aquele é o jejum que quer o Senhor! Jejum que
se preocupa da vida do irmão, que não se envergonha da carne do irmão – di-lo o
próprio Isaías. A nossa perfeição, a nossa santidade vai para a frente com o
nosso povo, no qual nós somos eleitos e inseridos.
O nosso maior ato de santidade está na carne do
irmão e na carne de Jesus Cristo. O ato de santidade hoje, nosso, aqui no
altar, não é um jejum hipócrita: é não envergonharmo-nos da carne de Cristo que
vem hoje aqui! É o mistério do Corpo e do Sangue de Cristo. É ir dividir o pão
com o esfomeado, tratar os doentes, os idosos, aqueles que não podem dar-nos
nada em troca: aquilo é não envergonhar-se da carne!”
“Quando eu dou a esmola, deixo cair a moeda
sem tocar a mão? E se por acaso a toco, faço assim, de repente? Quando eu dou
uma esmola olho nos olhos o meu irmão ou irmã? Quando eu sei que uma pessoa
está doente vou visitá-la? Cumprimento-a com ternura?
Há um sinal que talvez nos ajudará, é uma pergunta:
sei acariciar os doentes, os idosos, as crianças, ou perdi o sentido da
carícia? Estes hipócritas não sabiam acariciar! Tinham-se esquecido… Não
envergonhar-se da carne do nosso irmão: é a nossa carne! Como nós fazemos com
este irmão e com esta irmã, seremos julgados.”
Vatican Information
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