O presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Bispo do Xingu, Dom
Erwin Kräutler, foi recebido na sexta-feira pelo Santo Padre Jorge Mario
Bergoglio, o Papa Francisco.
A
audiência ocorreu no gabinete papal e tratou das violações aos direitos
indígenas no Brasil, promovidas pelo capital privado em aliança com o governo
federal. Esteve presente no encontro o assessor teológico do Cimi, Paulo Suess.
“Grupos
políticos e econômicos relacionados com a agroindústria, a mineração e
construtoras, com apoio e participação do governo brasileiro, tratam de revogar
os direitos territoriais dos povos indígenas”, diz trecho do documento entregue
ao Papa Francisco.
Durante a
audiência, os representantes do Cimi levaram a Francisco casos de violências a
que estão submetidos os povos indígenas e seus aliados. Destacaram a questão
Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul, onde “o confinamento (45 mil indígenas)
em área tão pequena traz consigo mortes, suicídios e sofrimento atroz e
permanente”.
A
truculência do governo brasileiro contra os Tupinambá, no sul da Bahia, que
hoje têm em suas terras uma base do Exército, incêndio de casas, como a de um
agricultor aliado dos Kaingang, no Rio Grande do Sul, e os ataques do
agronegócio contra o Cimi e demais organizações indigenistas foram outros
pontos abordados.
Dom Erwin
relatou a situação dos povos indígenas do Vale do Javari, que sofrem sem
assistência médica a surto de hepatite que já percorre décadas, além da
intenção do governo brasileiro de explorar petróleo nestas terras, o que o
governo do Peru já vem fazendo do outro lado da fronteira e impactando de forma
contumaz populações indígenas com ou sem contato.
Sobre os
grandes empreendimentos, o bispo lembrou que 519 empresas hoje, no Brasil,
causam impacto em 437 terras pertencentes a 204 povos indígenas, conforme
relatório produzido pelo Cimi com base também em outros estudos.
Destaque
para o mega-empreendimento da Usina de Belo Monte, no Pará, cuja construção
ocorre desrespeitando leis nacionais e convenções internacionais, caso da
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Entre os
povos afetados por tais projetos, estão grupos em situação de isolamento
voluntário: “Muitos deles se encontram em grande risco de destruição por causa
de projetos hidrelétricos, de mineração e desflorestamento causado pela criação
de gado e plantação de soja”.
Na Amazônia brasileira vivem cerca de 90 grupos em situação de isolamento, livres, sendo que no mundo esta é a região com a maior quantidade de povos ainda sem contato com a sociedade que os envolve.
Os
representantes do Cimi entregaram ao Papa publicações e estudos aprofundando as
denúncias que levaram ao Vaticano.
De acordo
com Dom Erwin Kräutler, o Papa Francisco demonstrou atenção, preocupação e
sensibilidade para com as questões levadas até ele pelo Cimi, organismo
vinculado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fonte:
CIMI
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