Reunidos em Luziânia, Goiás, no Centro de Formação
Vicente Cañas, entre os dias 23 e 26 de outubro, cerca de 60 agentes da CPT de
todo o país discutiram a Pastoralidade no dia a dia de trabalho da CPT.
Ao final do Encontro, eles aprovaram a Carta Final
em que reafirmam, entre outras coisas, "manter fidelidade ao projeto de
Jesus e, por isso, manter a fidelidade aos indígenas, quilombolas e todas as
categorias de camponeses que são os 'últimos e os penúltimos' na escala social,
decretados à morte pelo poder dominante".
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) nasceu em junho de 1975, durante o
Encontro de Pastoral da Amazônia, convocado pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), e realizado em Goiânia (GO).
O trabalho da Comissão
Pastoral da Terra abrange todo o território nacional e é realizado com
autonomia. Ela é uma Pastoral que possui vínculos com a CNBB e tem como
presidente Dom Enemésio Lazzaris e Vice-presidente Dom José Moreira Bastos Neto.
Confira o documento na íntegra:
Aos irmãos e irmãs da CPT, das igrejas e das
pastorais,
Estivemos reunidos, em Luziânia, no Centro de
Formação Vicente Cañas, do CIMI, de 23 a 26 de outubro de 2013, 55 agentes de
pastoral de todos os regionais da CPT, para aprofundar em quatro dias de
estudo, convivência fraterna, com fortes momentos de oração e contemplação, a
dimensão pastoral da CPT, que nos é irrenunciável.
Nossa reflexão partiu da escuta da pastoralidade que
é vivida e desenvolvida de formas diferentes e por pessoas diferentes nos meios
populares, quase sempre marginalizados, discriminados e oprimidos. São pessoas
que assumem o pastoreio dos seus semelhantes no cuidado da vida e das feridas
dos que sofrem.
Nossa reflexão buscou e encontrou na Bíblia a
fundamentação do ser pastor. E descobrimos que esse pastorear está carregado de
ambiguidades, pois os que dominam e governam o povo se fazem chamar de
pastores. Os profetas se levantam contra eles, pois em vez de se preocupar com
o povo "apascentam a si mesmos” (Ez 34,2).
Nosso modelo de pastor é Jesus que deixa 99 ovelhas
no deserto e vai em busca da que se perdeu e que disse que o Bom Pastor é aquele
dá a vida por suas ovelhas. (Jo 10,11).
No nosso trabalho, enquanto CPT, sentimos
diariamente os clamores das comunidades indígenas, quilombolas, camponesas em
geral, pois sua relação prazerosa com a terra, a água e as florestas, que para
elas é espaço de vida, cada dia se torna mais inviável no modelo capitalista
que domina nosso país que tudo quer transformar em mercadoria.
Dom Leonardo Steiner, CNBB e Isolete Wichininieski, CPT |
Hoje a situação das comunidades é mais grave do que
quando a CPT foi criada há quase 40 anos. Vivem ameaçadas de perder a terra e o
território onde nasceram e os poucos direitos que arduamente conquistaram.
Sofrem ataques diários dos que se julgam "donos” da terra e se encastelam
nos âmbitos dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Cada dia mais seus
sonhos de ter garantido seu espaço de vida é interrompido e negado.
É nesta contradição que a CPT desenvolve sua ação
pastoral de acordo com o que vemos nos Evangelhos. Todo o dia temos que nos
confrontar com as forças contrárias (ver Jo 10,1.8.12) dos que não querem o pão
repartido e o povo organizado, como Jesus nos aponta quando mandou seus
discípulos organizarem o povo em grupos para que o pão pudesse
saciar a todos. (Mc 6,39-40).
Nas Igrejas, muitos ainda não entendem que nossa
ação é verdadeiramente pastoral, porque falamos de comunidades que se preocupam
com a partilha do pão e a organização do povo como fez Jesus. Mas, ao mesmo
tempo nunca nos faltou o apoio de outros que se mostram solidários com as
causas que defendemos e oferecem seu apoio efetivo e concreto.
Concluímos nossa reflexão com a afirmação de algumas
opções irrenunciáveis da nossa identidade e prática pastorais que o Espírito
suscitou em nossas igrejas, quando se constituiu a CPT. Partilhamos com vocês
estas opções, como compromisso e apelo para a continuidade de nossa missão:
-Não podemos nos vender, nem nos render e nos deixar
cooptar pelo poder, a ideologia e as seduções do capital.
-Não podemos deixar de alimentar a mística e a
espiritualidade que funde o humano e o divino.
Não podemos substituir o povo, queimar processos,
coibir autonomias, colocar obstáculos ao protagonismo popular.
-Não podemos nos apresentar como iluminados e com
monopólio da verdade.
Por outro lado reafirmamos que devemos:
-Manter fidelidade ao projeto de Jesus e, por isso,
manter a fidelidade aos indígenas, quilombolas e todas as categorias de
camponeses que são os "últimos e os penúltimos” na escala social,
decretados à morte pelo poder dominante.
-Partilhar suas lutas e conquistas e a memória de
seus mártires.
-Denunciar as injustiças e a violência contra os
povos do campo, da água e das florestas e anunciar-lhes o apoio para a vida
nova que brota da sua luta e organização.
-Acreditar no protagonismo dos pequenos e pobres.
-Desenvolver a acolhida, a escuta e o diálogo com a
diversidade de expressões religiosas e culturais.
-Construir comunhão através da colegialidade nas
decisões e fazendo circular o poder.
-Garantir um processo permanente de formação,
desenvolvendo também a capacidade de registro e sistematização das experiências.
Num tempo em que o capital investe pesadamente na
manipulação de uma religião só de louvor para silenciar o profeta, temos que
afirmar a nossa pastoral de maneira orgânica, criando espaços de fé, mística,
reencantamento e festa que nos alimentam e estimulam e não nos deixam jamais
perder a esperança.
Luziânia, 26 de outubro 2013.
Os participantes do Encontro Nacional de Formação
Para
mais informações entre em contato com:
Isolete Wichinieski (coordenação nacional da CPT) –
(62) 9413-0298
Cristiane Passos (assessoria de comunicação CPT
Nacional) – (62) 4008-6406 / 8111-2890.
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